A palavra “público” é relativa a população, ao povo, ou a algo que pertence a todas as pessoas. A partir daí, concluímos que um espaço público é aquele de posse coletiva, destinado ao uso comum.
Todas as cidades, independentemente de seu tamanho e porte econômico, estão cheias desses espaços, por onde seus cidadãos e visitantes circulam livremente.
O problema é que muitos desses lugares são negligenciados pelo poder público, planejados para atender a interesses individuais em vez de coletivos ou construídos para os automóveis, não para pedestres.
Entre os urbanistas mais respeitados do mundo, é consenso de que esse formato torna as cidades menos humanas. Mas ao mesmo tempo em que o modelo é chamado de antigo e obsoleto, podemos considerá-lo recente sob uma perspectiva histórica.
Antes da popularização dos automóveis (cujo marco é o lançamento do Ford T, em 1908), os projetos urbanísticos do mundo inteiro privilegiavam as pessoas, com amplas áreas centrais destinadas à convivência do povo. Afinal, não faria sentido nada diferente disso.
Então, quando falamos em ressignificar o espaço público, é um pouco sobre retomar essa maneira de aproveitar a cidade.
Podemos definir o urbanismo como um conjunto de práticas que tem como objetivo planejar e organizar uma cidade, visando sempre proporcionar as melhores condições possíveis para a vida dos cidadãos.
A execução dessas práticas fica a cargo principalmente do poder público municipal, responsável pelo plano diretor, plano de mobilidade urbana e instalação do mobiliário urbano. E por dar o melhor uso possível a espaços públicos como praças, parques e calçadões, por exemplo — além de fazer sua manutenção, claro.
Sabemos, no entanto, que nem sempre esse papel é cumprido à risca, seja por falta de recursos, de pessoal ou simplesmente porque não a questão não é tratada como prioridade.
Nesses casos, nada impede a população de se mobilizar e, com criatividade e colaboração, assumir para si a tarefa de ressignificar os espaços públicos.
Muita gente, em vários lugares do mundo, já entendeu a ideia. O resultado dessa mentalidade foi a criação de iniciativas que tornam as cidades mais humanas. Ou Cidades Para Pessoas, como diz o renomado urbanista dinamarquês Jan Gehl.
A seguir, apresentamos a você alguns exemplos dessas iniciativas que buscam ressignificar o espaço público. Inspire-se e comece a pensar no que você pode fazer pela sua cidade.
Vamos começar com um projeto daqui mesmo. Criado pelo Estúdio Nômade, um bom exemplo de como a ressignificação do espaço público pode surgir da iniciativa privada.
A empresa presta consultoria para instituições privadas, públicas e do terceiro setor no desenvolvimento de inovação para o bem comum, utilizando ferramentas do design estratégico e psicologia sistêmica.
O primeiro projeto com a marca da Nômade foi o Estante Pública: a instalação de prateleiras com livros (para a população se servir) em paradas de ônibus de Porto Alegre, no lugar dos painéis publicitários.
As estantes também vinham com um manual de instalação, para serem multiplicadas por outros cidadãos de forma independente, o que realmente aconteceu. O projeto encerrou com a troca do mobiliário urbano pela prefeitura.
Às vezes é difícil desenvolver um projeto permanente, de ocupação diária de um espaço público ocioso. Porém mesmo iniciativas eventuais já ajudam bastante, principalmente porque criam, na população local, o sentimento de que aquele lugar poderia ser melhor aproveitado.
Podemos dizer que esse é o caso da Rua Lopes Chaves, localizada no bairro Barra Funda, São Paulo. No ponto em que a via dá de cara com os trilhos do trem, há um beco sem saída.
Geralmente, o espaço é frequentado por usuários de crack e moradores de rua. Mas a população da vizinhança se une anualmente para realizar um evento com bastante arte, comida e cervejas artesanais. Inicialmente, o projeto era chamado de Beco Beer Festival, depois de Babylon By Beco.
Hoje, conta com a parceria do Subcentro, um movimento coletivo que busca ressignificar uma área que abrange, além da Barra Funda, parte dos bairros Campos Elíseos e Bom Retiro.
Quanto à população de rua, a intenção não é expulsá-los do local, mas sim reduzir os danos. Eles são convidados a trabalhar no evento para que, quando a região for valorizada, possam ser contratados pelos comerciantes e não expulsos, como explicou um dos integrantes do Subcentro ao Hypeness.
O coletivo Trama foi idealizado por cinco estudantes do curso de Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Surgiu primeiro com a ideia de criar uma plataforma digital para facilitar conexões em rede (a Trama.cc).
Depois, o grupo viu a necessidade de botar a cara na rua e criar um coletivo, no moldes atuais, promovendo iniciativas criativas e colaborativas de ocupação dos espaços públicos. Sempre procurando a conexão e mobilização de pessoas comuns.
Além de eventos colaborativos, o coletivo desenvolve projetos como cursos criativos, oficinas inovadoras e intervenções interativas.
Há casos em que a mobilização coletiva para a ocupação e ressignificação de um espaço público dá tão certo que acaba criando uma atração turística.
É o caso do High Line, um parque criado em uma antiga ferrovia elevada que percorre 19 quadras no bairro de Chelsea, em Manhattan.
Uma espécie de calçadão suspenso, passa por cima de ruas e por dentro de prédios. Contém árvores, gramados, bancos com design moderno, lixeiras, exposições de arte e um ponto com uma bela vista do Rio Hudson.
Hoje, é um ícone da arquitetura contemporânea. Mas nem sempre foi assim, e é por isso que o local é um dos melhores exemplos que temos de ressignificação do espaço público em todo o planeta.
Após a desativação da ferrovia, em 1980, o lugar passou a se degradar e servir como ponto de prostituição e uso de drogas.
A partir dos anos 2000, Joshua David e Robert Hammond, moradores da vizinhança, criaram a organização sem fins lucrativos Friends of the High Line e se empenharam em uma campanha para a preservação e reutilização do viaduto como espaço público aberto.
Transformar e ocupar lugares pouco frequentados em ambientes de convivência da comunidade é uma questão de qualidade de vida, e geralmente as pessoas não têm dificuldade para perceber isso.
Só que vai muito além disso: é também uma questão de segurança. Antes do policiamento ostensivo e das câmeras, o que torna uma região segura é a sua ocupação.
Sabe de outras iniciativas de ressignificação do espaço público que têm a ver com o que falamos aqui? Deixe um comentário abaixo falando sobre elas.
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