Amor pela vida. Este é o significado literal do termo popularizado em 1984 pelo ecólogo americano Edward O. Wilson: Biofilia.
Philia = amor
Bonito, né?
Além de bonito, o termo é utilizado por diferentes campos. Foi utilizado inicialmente na área de estudos psicanalíticos, para descrever a atração por tudo que é vivo.
Na perspectiva científica, a biofilia é compreendida como a atração pela natureza como um princípio evolutivo. No campo da filosofia o termo também tem um forte significado que reflete sobre a interação da natureza com os seres humanos.
Para este texto, vamos cruzar os campos que utilizam o termo para explicar sobre as cidades biofílicas e porque a tendência de integrar a natureza ao cenário urbano é uma orientação forte dentro do planejamento urbano do futuro.
O pesquisador estadunidense Timothy Beatley, autor do livro BiophilicCities: Integrating Nature into Urban Design and Planning, foi um dos primeiros estudiosos do assunto a aplicar a biofilia às cidades, ao desenho e planejamento urbanístico. Timothy acredita que mesmo que a biofilia seja uma condição e tendência natural genética do ser humano, existe a necessidade de intensificar e fortalecer o contato com a natureza para que a conexão se perpetue.
Basta pararmos para pensar quanto os imóveis que se localizam próximo a parques, praças e praia, são valorizados no mercado. Atributos como:
“De frente para o mar”,
“Há 5 minutos do parque da Redenção”,
“Próximo a praça da Encol”,
“A 200 metros da beira da praia”,
chamam a atenção de quem procura um imóvel para comprar ou alugar, não é?
Por quê?
Porque estes são atributos naturais, é natureza em meio a selva de pedra, provando o que a Biofilia expressa, de que os humanos buscam a interação e o contato com o que é natural.
Projetos biofílicos no cenário urbano vêm aumentando bastante nos últimos anos, especialmente em grandes cidades, em edifícios que procuram incorporar características naturais como ventilação, luz, vegetação, agricultura e cultivo, entre outros aspectos.
Estes esforços têm aparecido mais fortemente em países desenvolvidos, pois a maioria dos centros urbanos de países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos ainda não demonstram preocupação em colocar esta tendência em prática.
Timothy Beatley ajudou a criar a rede de Cidades Biofílicas, em um projeto que inclui 8 cidades do mundo. São elas:
Assim como no design, as cidades biofílicas também possuem 7 princípios. As 8 cidades da rede foram planejadas para que seus habitantes desenvolvam atividades e estilo de vida ligados diretamente à natureza, conforme os 7 princípios das cidades biofílicas:
A ideia é que um grande número de pessoas tenha acesso fácil a grandes áreas naturais. Um exemplo desse primeiro princípio é o Central Park, localizado bem no meio da cidade de Nova Iorque.
O projeto biofílico da cidade não se limita ao Central Park, até 2030 a cidade de Nova Iorque terá um espaço público verde a 10 minutos de caminhada para cada habitante da cidade.
Valorização das riquezas naturais locais para que as pessoas possam conhecê-las e preservá-las através de programas educacionais. Este segundo princípio sugere principalmente que deve existir um comprometimento dos habitantes com a manutenção e cuidados com as áreas naturais em suas atividades cotidianas em conjunto com o apoio público e privado.
A ideia é que as pessoas possam usufruir dos espaços naturais com facilidade para que a interação e integração com a natureza seja realizada facilmente, prazerosamente e com frequência.
Em Cingapura foram criadas passarelas suspensas com 200 km de caminhos que interligam os seus parques. Desse modo, a população tem acesso facilitado aos parques de diferentes pontos da cidade.
Em Oslo, capital da Noruega, dois terços da cidade é reserva florestal e há uma rota bastante abrangente de transporte público para ajudar as pessoas a circularem por estas florestas.
Criação de espaços adaptados que oferecem experiências visuais, sonoras e ou olfativas relacionadas a natureza e biodiversidade local. O intuito é principalmente a interação e entretenimento com o ambiente natural. Em um mundo onde a diversão e o entretenimento estão basicamente ligados à tecnologia digital, esses ambientes multissensoriais não só aproximam as pessoas da natureza como são capazes de promover a ressignificação do entretenimento.
Este princípio incentiva a criação de ações comunitárias na busca pela integração das pessoas com a cidade em um estilo de vida mais natural. Caminhadas guiadas em espaços naturais, acampamentos, hortas comunitárias, recuperação de áreas degradadas através de programas de voluntários, entre outras atividades.
Criação de espaços para aulas que girem em torno da natureza e execução de design inteligente e sustentável, museus naturais, centros de convivência. Esses são alguns exemplos do 6º princípio das cidades biofílicas. O intuito essencial é fazer as pessoas interagirem de forma mútua com a natureza em todos os momentos do dia a dia, na hora da aula, na hora do lazer e descanso, etc.
Vitoria-Gasteiz, a capital do País Basco, na Espanha é muito conhecida por possuir caminhos de anéis verdes nas partes mais densamente urbanizadas da cidade. As pessoas caminham e se deslocam de um ponto a outro da cidade em contato contínuo com a natureza.
Este princípio visa o planejamento e implementação de planos de ação que protegem a biodiversidade local. Muitas vezes a população não tem a intenção de prejudicar ou impactar negativamente a natureza em uma cidade. Simplesmente desconhecem o impacto das suas ações diárias para o meio ambiente não sabem o que fazer exatamente para protegê-la e preservá-la. Nas cidades biofílicas existem projetos de conscientização para a população contribuir para a preservação da natureza nos espaços urbanos.
Uma cidade biofílica possibilita aos seus habitantes desenvolverem atividades e um estilo de vida que os deixa aprender com a natureza e comprometer-se com seu cuidado. O futuro dos centros urbanos promete voltar às origens e tornar as cidades melhores. Permite que os habitantes se desloquem sem destruir o que é natural e preservem mais as áreas verdes, capazes de oferecer uma melhor qualidade de vida.
Integrar o conceito de biofilia ao desenvolvimento das cidades é a melhor solução para o futuro. E somente com um planejamento urbano sustentado nos princípios da cidade biofílica será possível promover esse maior contato com a natureza e a sua integração com a humanidade.
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