“Eu acredito que espaços públicos vivos e agradáveis são a chave para planejar uma boa cidade.” A frase é de um TED Talk com Amanda Burden, que chefiou a pasta de planejamento urbano em Nova York na gestão de Michael Bloomberg. Confira aqui a palestra inteira.
Burden teve participação ativa e importante na revitalização de Lower Manhattan, da orla do Brooklyn e no projeto do High Line. O último, aliás, é um dos melhores exemplos de como é possível transformar lugares abandonados em espaços públicos de qualidade. A história do High Line é tão legal que motivou um artigo inteiro em nosso blog — confira aqui.
Para a ex-chefe de planejamento urbano de Nova York, mais importantes que os prédios são os espaços públicos entre eles. O problema é que nem todos os gestores públicos têm essa visão e a prioridade, na ocupação da superfície urbana, costuma ser criar mais vias para os automóveis.
Diante desse cenário, uma alternativa é ampliar o campo de visão e procurar alternativas. É aí que entram os lugares abandonados, como ferrovias inativas, usinas e fábricas desativadas, depósitos de lixo e outras áreas esquecidas, mal cuidadas ou sem uso.
Se esses lugares estão ociosos, por que não transformá-los em espaços para as pessoas se encontrarem, conviverem, praticarem esportes e se divertirem?
Conscientizar nossos leitores quanto à importância de ressignificar espaços públicos para termos cidades mais humanas é um dos nossos assuntos preferidos aqui no blog. Mas se você nos acompanha, sabe que também procuramos destacar a responsabilidade de cada um de nós nessas questões.
O primeiro passo é tomar conhecimento de iniciativas inovadoras ao redor do mundo, que nos mostram que é possível fazer diferente. Com criatividade, colaboração, mobilização e boa vontade, é possível transformar lugares abandonados em áreas para as pessoas. Veja, a seguir, 6 exemplos sensacionais de projetos desse tipo.
O Coulée verte René-Dumont, mais conhecido como Promenade plantée (algo como “calçadão arborizado” em francês) é um parque elevado que percorre 4,7 km no 12º arrondissement de Paris.
O Promenade plantée é um lindo jardim suspenso, semelhante ao High Line — ambos foram construídos em linhas ferroviárias desativadas. Porém, é anterior ao parque nova-iorquino, pois foi inaugurado em 1993. Outra diferença é que, apesar de ter um grande potencial para isso, o parque parisiense não é um ponto turístico tão conhecido.
O Gas Works Park é um lindo parque que oferece aos visitantes uma visão panorâmica de Seattle. Ele foi construído no terreno de uma usina de gás, desativada em 1956. Em 1962, a administração da cidade adquiriu o local, encomendou um projeto com o paisagista Richard Haag e abriu o parque ao público em 1975.
O grande diferencial é que os equipamentos da usina de gaseificação não foram totalmente removidos: há várias peças que permanecem lá, compondo um bonito contraste com o gramado verde, perfeito para fazer um piquenique. O solo, aliás, teve que passar por um tratamento especial por conta da poluição recebida durante os anos de atividade da usina.
O Tanghe River Park é o lar do premiado projeto Red Ribbon, um banco vermelho sobre uma passarela que serpenteia por meio quilômetro dentro do parque. Quem visita o local hoje não imagina que, antes da criação do Tanghe River Park, em 2006, a área era de difícil acesso e abrigava um depósito de lixo. Atualmente, é um ponto de recreação de toda a comunidade da região.
Esse parque alemão é parecido com o Gas Works Park, de Seattle, pois foi construído no terreno de duas usinas (uma de carvão e outra de aço), mantendo parte da sua estrutura.
Quando a usina de aço foi abandonada, em 1985, a cidade de Duisburg resolveu fazer algo diferente e criou um projeto inovador de paisagismo e recuperação da água e solo contaminados. Hoje, o parque é um enorme jardim onde ocorrem exposições de arte, gastronomia e até eventos esportivos.
Tudo bem que não é possível nadar no Lago Ontário, mas só o fato de ter uma área na beira dele, com guarda-sóis, cadeiras de praia e areia, já é muito legal. Estamos falando da Sugar Beach, um espaço público inaugurado em 2010 em Toronto. Antes de ser transformado em praia, o local abrigava um estacionamento em uma zona industrial em decadência.
O Baana é uma via separada de ruas, avenidas e rodovias, aberta 24 horas por dia. Assim como o High Line e o Promenade Plantée, o local abrigava uma linha ferroviária, construída na última década do século 19 e desativada em 2009.
Após a desativação, toda a comunidade — moradores, universitários e órgãos municipais — foi envolvida no debate sobre qual destino a área teria. Acabou prevalecendo a ideia de criar um corredor para pedestres e ciclistas, aberto em 2012, com aproximadamente 1,5 km de extensão.
Esperamos que esses exemplos tenham inspirado você a olhar para os lugares abandonados de uma outra maneira. Será que, com colaboração e mobilização, não é possível transformá-los em espaços públicos de qualidade, para tornar a cidade mais humana?
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