Você já ouviu falar que as tendências vivem de ciclos, certo? Que a moda está sempre se apropriando do passado para se reinventar, inovar e ressignificar. Mesmo em um mundo cada vez mais digitalizado e moderno, onde as relações basicamente se sustentam por dispositivos eletrônicos, onde o tempo de vida útil dos aparelhos vem caindo drasticamente e onde o temor de perder o emprego para um robô já desponta no horizonte, alguns hábitos tendem a retomar um pretérito (nem tão distante).
Câmeras analógicas ressurgem com vinis e outros artigos vintage, numa tentativa de ligação com o real. Os mercadinhos de bairro voltam como um negócio inovador, em meio a grandes redes de varejo – focadas mais em números do que em humanização. Produções artesanais, em pequena escala, retomam a preciosidade da personalização.
São exemplos que demonstram nossa mais pura vontade de se aproximar mais, dos outros e do lugares onde estamos. Nessa linha, seria impossível deixarmos de notar que as formas de urbanas de habitação também tendem a voltar no tempo. Viver em comunidade, se sentir inserido em um contexto, estender a moradia para além da demarcação de um terreno e retomar a sensação de pertencimento são intenções não tão novas, mas que estão sendo resgatadas a partir de um conceito bem interessante: o novo urbanismo. Vamos entender um pouco mais sobre ele?
“Nós defendemos a reestruturação das políticas públicas e práticas desenvolvimentistas que sustentem os seguinte princípios: as vizinhanças devem ser diversificadas em uso e população; devem ser projetadas para o pedestre como também para o carro; cidades grandes e pequenas devem ser conformadas por espaços públicos fisicamente definidos e universalmente acessíveis e por instituições de comunidade; os sítios urbanos devem ser moldados pela arquitetura do edifício e da paisagem, que celebram a história local, o clima, a ecologia, e a prática de edifício.”
Essa proposição bastante atual, na verdade, data de 1993. Sim, estamos falando de uma iniciativa estruturada há mais de 24 anos, mas projetada ainda antes, no início da década de 1980. Influenciados pelas organizações urbanas anteriores à popularização do automóvel, a partir da II Guerra Mundial, um grupo de urbanistas se uniu em torno de uma corrente nomeada Novo Urbanismo. Apesar da definição de 10 princípios básicos, o movimento se constituiu sobre dois pilares principais: a construção do senso de comunidade e o desenvolvimento de práticas sustentáveis.
O texto que lemos anteriormente é a abertura da Carta do Novo Urbanismo, redigida pelo Congresso do Novo Urbanismo, responsável por gerir o movimento de design urbano e influenciar diversas localidades ao redor do planeta. Nela já é possível notar as premissas da iniciativa, que vão desde o planejamento regional até o desenho de comunidades locais, convergindo na atenção para o equilíbrio nas construções, a fim de atender necessidades humanas e o ambiente natural, além da preservação do patrimônio histórico e da participação da comunidade na gestão dos espaços comuns.
Como pano de fundo, temos problemas emergentes relacionados com a urbanização dispersa (urban sprawl). Até meados do século XX, as cidades costumavam ser organizadas a partir das prioridades dos pedestres, sendo transitáveis pelos cidadãos sem impedimentos. O desenvolvimento dos transportes de massa, fez estender o alcance da cidade em linhas de trânsito, fazendo crescer as comunidades e espaçar o uso do territórios. O advento dos automóveis motivou uma transformação na organização das municípios, priorizando o fluxo e a presença desse tipo de transporte.
Ainda que a organização do movimento do Novo Urbanismo tenha surgido anos depois, já na década de 1950 ativistas iniciaram suas críticas aos planejamentos modernistas. O filósofo e historiador Lewis Mumford, por exemplo, criticava o desenvolvimento anti-urbano da América pós-guerra. O livro Morte e Vida de Grandes Cidades, escrito por Jane Jacobs, no início da década de 1960 é outro exemplo: implorava aos urbanistas a reconsiderarem a habitação unifamiliar, os bairros dependentes de carro e os centros comerciais segregados.
No cerne do movimento do Novo Urbanismo estão 13 princípios que, teoricamente, formariam um bairro autêntico.
Parecem elementos muito utópicos e inimagináveis para a realidade atual? Saiba que já existem excelentes exemplos de aplicação do Novo Urbanismo pelo mundo. Locais que primam pelos pedestres, com transportes públicos eficientes e, claro, a sensação de comunidade. Sim, estando integradas à cidade, eleva-se a sensação de pertencimento, de parceria. Pessoas se conectam com às ruas e umas com as outras.
Uma das melhores cidades para pedestres no mundo. Nos 40 anos desde que a rua principal de Copenhague foi transformada em uma via de pedestres, os planejadores da cidade têm dado muitos outros pequenos passos para transformar a cidade em um lugar mais amigável para o pedestres e menos orientada para o carro. A transformação de lotes de estacionamento em praças públicas, a redução gradual do tráfego e estacionamentos, o incentivo à vida dos estudantes e a promoção das bicicletas como principal meio de transporte são apenas alguns dos destaque do local.
Veneza é um ótimo exemplo de novo urbanismo. Na cidade, os carros nunca foram autorizados a entrar – a cidade inteira é composta de todas as ruas de pedestres. Veneza também tem o mais completo, mais variado e bonito tecido urbano contínuo. Cada bairro tem sua própria praça central ou campo que age como o seu coração e sua alma. Tudo está a uma curta distância de todos os moradores e oferecem uma gama completa de serviços, bem como as interações sociais.
A cidade universitária de Pedra Branca em Palhoça (SC), começou a ser construída em 1997 e trata-se de um município com infraestrutura completa (apartamentos, lojas, escritórios, universidade, escolas, bancos, restaurantes, parques, praças, hospital) ao alcance de todos. Os principais meios de deslocamento são a pé, de bicicleta ou transporte público. As quadras são configuradas com serviços que se complementam. A alta densidade e concentração de pessoas viabiliza o uso dos espaços públicos e proporciona preservação ambiental, pois reduz a emissão de gases.
O Parque da Cidade localizado em São Paulo surgiu como uma solução pela carência de áreas verdes e pela falta de interação entre as pessoas. Foi projetado para ser de uso múltiplo, onde as pessoas possam encontrar tudo que precisam de forma rápida, pelos diversos serviços agrupados no mesmo espaço, utilizando os conceitos da cidade compacta. Prioriza espaços feitos para as pessoas e conta com fácil acesso ao transporte público. A conectividade, além de aproximar os moradores, diminui o congestionamento e os impactos da poluição.
E então, que achou desse movimento? Já pensou em quanto você está realmente conectado ao lugar que você vive? Compartilhe esse conteúdo e inspire mais pessoas ao seu redor!
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