Quando ouvimos falar em cidades acessíveis, é comum pensar primeiro em pessoas com algum tipo de deficiência. Isso é ótimo, pois geralmente esses são os indivíduos que mais sofrem com ambientes urbanos mal planejados.
E não estamos falando de pouca gente: segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,2% da população brasileira tem deficiência auditiva, visual, física ou intelectual. Isso equivale mais ou menos a uma em cada 16 pessoas.
O que vamos propor aqui, no entanto, é ampliar essa visão, pensar em cidades acessíveis para todos. Não se trata de menosprezar a luta de cadeirantes, cegos e outros, mas sim de não deixar ninguém de fora.
Uma pessoa com autismo, por exemplo, pode ter hipersensibilidade a sons, luzes e movimento. Se a cidade onde ele vive tem poluição sonora e visual, trata-se de um ambiente pouco convidativo e, por que não, pouco acessível.
Mas será que o autismo está na lista de deficiências intelectuais? É aqui que queremos chegar: não importa. Para o debate sobre as cidades acessíveis, tanto faz. O que interessa é que a pessoa com autismo tem o direito de viver em uma cidade acolhedora, como qualquer um.
No fim, todo mundo é beneficiado: pessoas com deficiência, idosos, pessoas com mobilidade reduzida, pessoas com estatura reduzida, pedestres em geral e até mesmo motoristas, pode acreditar. Porque a cidade acessível tem mobilidade, melhor sinalização e infraestrutura de trânsito, o que torna o tráfego de veículos muito mais organizado e seguro.
As cidades acessíveis são aquelas que ajudam — e não dificultam — a locomoção das pessoas. Que estimulam a interação entre a cidade e a população. São mais agradáveis e convidativas, menos opressivas.
Para ajudar na definição, podemos pegar emprestados os critérios do prêmio Access City Award, concedido pela União Europeia às cidades com mais disposição, capacidade e esforços para se tornarem mais acessíveis.
São premiadas as cidades que garantem acesso igual a direitos fundamentais, melhoram a qualidade de vida de sua população e asseguram que todo mundo — independentemente de idade, mobilidade ou capacidade — tenha igual acesso a todos os recursos e prazeres que a cidade tem a oferecer.
Esse tipo de definição, embora seja subjetivo, é mais completo do que normas, que nem sempre dão conta de todas as variáveis que tornam uma cidade realmente acessível. Ainda assim, é claro que as normas são muito importantes.
No Brasil, é a NBR 9050, da ABNT, que trata do tema acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
Para sermos um pouco mais objetivos, podemos citar as escadas, passeio público estreito e esburacado, meio-fio sem rampa e portas-giratórias como alguns dos principais obstáculos enfrentados por pessoas com deficiência em ambientes públicos e privados.
As cidades acessíveis, por outro lado, estão repletas de rampas de acesso, elevadores, corredores mais largos, transporte público adaptado, piso tátil, sinalização em braille, avisos sonoros, assentos para pessoas com obesidade e outros recursos que tornam os ambientes mais inclusivos.
O Brasil ainda tem muita coisa para melhorar em termos de acessibilidade. Mas por que não focar no impacto positivo do que já foi implantado com sucesso? O site do governo brasileiro já destacou alguns dos principais exemplos, que mostramos a seguir.
Maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo, São Paulo ganha destaque na lista por conta de atrações como o Memorial da América Latina e o Museu do Futebol, que contam com áudio-guias, totens em braille, maquetes táteis, imagens em relevo, piso tátil e acesso para cadeirantes.
A Cidade Maravilhosa se tornou uma das referências desde que sediou as Paralimpíadas, em 2016. Foram investidos R$ 75 milhões em obras de acessibilidade. Hoje, o turista com deficiência pode acessar sem problemas atrações como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.
A primeira capital brasileira tem muita história, mas soube se adaptar aos tempos modernos. O centro histórico da cidade, patrimônio cultural da humanidade, agora tem guias rebaixadas, rampas e elevadores, recursos que tornam possível transitar pelas famosas escadarias e ladeiras de Salvador.
Com as maravilhosas Cataratas do Iguaçu, Foz reúne multidões de turistas de todos os cantos do mundo e é pioneira no turismo de inclusão no país. É um dos destinos com maior número de pontos turísticos acessíveis.
Não são apenas as cidades turísticas que são adaptadas para terem maior acessibilidade. Uberlândia não consta na lista do site do governo brasileiro, mas não poderia ficar de fora por ser talvez a principal referência em acessibilidade no Brasil.
Com 600 mil habitantes, a cidade possui rampas de acesso em todas esquinas, tanto no centro quanto nos bairros, piso tátil por tudo e uma frota com 100% dos ônibus com elevadores para cadeirantes. Qualquer projeto para uma nova rua, prédio ou loteamento só é aprovado se tiver um plano de mobilidade.
Para seguir melhorando nossas cidades, que tal ficar de olho em exemplos legais de outros países?
A cidade britânica de Chester venceu o Access City Award em 2017 e se tornou um grande case para a Europa por ter transformado um centro histórico bastante antigo em um ambiente totalmente acessível. Permite ao viajante não apenas visitar o lugar, mas também conferir cada pequeno detalhe.
Ainda na Inglaterra, Londres sempre foi uma cidade pioneira em sua milenar história. Em 1995, foi aprovada lá uma lei que declara crime a discriminação contra pessoas com necessidades especiais.
Hoje, mesmo com uma malha ferroviária centenária, a maioria das estações do metrô têm adaptações — e pessoas com deficiência não pagam pelo transporte público.
Além de ser uma das cidades mais sustentáveis do planeta, Liubliana possui ônibus modernos, com sinais de aviso sonoro e visual para pessoas com deficiência visual e auditiva. Nos pontos, há painéis em braille.
O principal local turístico da cidade, o Castelo de Liubliana, é adaptado. No centro, é possível se deslocar com os Kavalir, pequenos veículos elétricos que transportam passageiros gratuitamente.
Como é uma cidade moderna, a maioria dos prédios, restaurantes e atrações de Dubai têm ótima acessibilidade para cadeirantes. Seu sistema de metrô é livre de barreiras para pessoas com mobilidade reduzida e se conecta ao aeroporto.
Aeroporto que, aliás, é um dos melhores do mundo no quesito acessibilidade, com salas de espera acessíveis, triagem acelerada e filas exclusivas para cadeirantes.
O sistema de transporte público de Melbourne é altamente acessível. Além disso, a grande maioria dos pontos turísticos da cidade são desenvolvidos para que todos possam apreciar do mesmo jeito. Na Ilha Phillip, por exemplo, existe um mirante totalmente acessível para cadeirantes.
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Maravilhoso o texto. Wikihaus eu nao leio tanto, mas os seus textos eu chego até o fim.