As cidades e seus elementos estão em constante transformação. O que arquitetos e urbanistas pensam para atender às demandas de hoje pode não fazer sentido daqui a algumas décadas. Mas a transformação não precisa ser a derrubada de tudo e construção de soluções novas do zero. O complexo arquitetônico Vila Flores mostra que há alternativas.
Localizado na esquina da Rua São Carlos com a Rua Hoffmann, no bairro Floresta, o conjunto consiste em três edificações e um pátio. O terreno de 1.415 metros quadrados compreende, hoje, uma das principais iniciativas inovadoras e colaborativas do 4º Distrito de Porto Alegre.
A gestão do espaço é dividida entre três equipes: Administração e Imobiliário, que gerencia os aluguéis dos espaços fixos; Arquitetura, um corpo técnico responsável pelas obras e pelo projeto arquitetônico; e Associação Cultural Vila Flores, entidade sem fins lucrativos que gerencia atividades sociais e culturais.
Além disso, há os vileiros. É assim que são chamados os artistas e empreendedores de diversas áreas que instalaram seus negócios no complexo. Eles pagam uma taxa de contribuição associativa mensal e participam das decisões sobre as atividades realizadas e sobre questões de infraestrutura dos prédios.
Muita gente ainda associa iniciativas como o Vila Flores ao poder público. O imóvel, no entanto, é privado. Ele está inventariado, pertence a uma família que optou por preservar o máximo possível de seu patrimônio arquitetônico e abrir as portas para os empreendedores da área criativa, cultural e social. E faz isso sem perder a sustentabilidade financeira.
Mas a ideia atravessa os muros do terreno. A relação com o entorno imediato do bairro Floresta e com toda Porto Alegre também está no ethos do complexo. “O Vila Flores tem essa missão de ser algo que reverbera outras possibilidades de modos de trabalho, de vida e de convivência para o resto da cidade.”
A frase é de Aline Bueno, membro e uma das fundadoras da Associação Cultural Vila Flores. Por conta dessas características, ela define o Vila Flores como um projeto de inovação social, que busca construir novas relações e se alimentar delas para fazer as coisas de um jeito diferente.
E a colaboração ocupa um papel importante nesse cenário. Não apenas nos eventos promovidos no complexo, como o tradicional Arraial, que conta com a contribuição de todos os vileiros (entenda melhor lendo este post) mas também em iniciativas como os mutirões de limpeza, que estimulam comportamentos colaborativos também nos moradores do bairro.
A agenda de eventos, cursos e outras atividades gerenciadas pela Associação Cultural Vila Flores é uma das marcas do complexo. Nos dias 28 e 29 de abril, por exemplo, ocorre o festival #Deslocamentos4D, que promove a visibilidade de iniciativas culturais e sociais no 4º Distrito. Aqui, você confere mais informações.
A programação ainda tem atividades como oficinas de dança, aulas de capoeira, projeção de filmes, apresentações musicais, palestras… Enfim, múltiplas possibilidades para quem quiser aprender, divertir-se ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E, acima de tudo, criar conexões.
Aline Bueno destaca que o fato de que, apesar do complexo Vila Flores ser um espaço privado, boa parte dessas atividades são gratuitas. O que acaba transformando-o em um verdadeiro centro cultural. E o acesso a essa programação tem uma grande força transformadora.
Segundo ela, os benefícios do Vila Flores para a comunidade nem sempre são tangíveis. “Mesmo que o impacto seja a longo prazo, é uma sementinha que a gente está plantando. Uma criança de cinco anos que vê um espetáculo de teatro aqui, por exemplo, leva isso para a vida”, reflete.
As edificações do complexo Vila Flores foram construídas pelo alemão José Franz Seraph Lutzenberger. Emigrado para o Brasil em 1920, o engenheiro e arquiteto foi responsável por outros projetos importantes na cidade de Porto Alegre, como a Igreja São José, o Palácio do Comércio e o Instituto Pão dos Pobres.
Originalmente, o conjunto era destinado a “casas de aluguel” para pessoas e famílias, em uma época em que o 4º Distrito estava em franca expansão industrial. Os prédios continuaram sendo utilizados por muitas décadas para fins residenciais e comerciais. Mas, com o passar dos anos e a falta de manutenção, as construções se degradaram.
Em 2009, foi feita a divisão de bens do espólio da família proprietária. O complexo passou para os irmãos Antonia Chaves Barcellos Wallig e João Felipe Chaves Barcellos Wallig, que compreenderam a importância arquitetônica, cultural e história da construção após muito estudo.
Surgiu a ideia de transformar o complexo em um espaço multifuncional. Em 2011, o arquiteto João Felipe Wallig e seus colegas começaram a trabalhar no projeto arquitetônico. No final de 2012, o local recebeu o primeiro evento e, a partir daí, começou a ser desenhado um projeto cultural.
Hoje, o projeto do Vila Flores está tramitando na Lei de Incentivo à Cultura. As suas diretrizes são a preservação e restauro do patrimônio arquitetônico, a diversidade de uso, a acessibilidade (não apenas física, mas referente ao acesso da comunidade a projetos culturais e sociais) e a adaptação do espaço para uma infraestrutura que abrace as formas de uso contemporâneas do complexo.
No início da conversa que Aline teve com a gente, ela alertou que, para explicar de fato o que é o Vila Flores, precisaria de duas horas. Melhor que isso é convidar você a conhecer o local e conferir ao vivo toda essa complexidade. Então acesse a agenda de atividades, programe-se e convide seus amigos!
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