Fotografia de Fernando Banzi e Lauro Rocha

Complexo Vila Flores explora novas possibilidades no 4º Distrito

As cidades e seus elementos estão em constante transformação. O que arquitetos e urbanistas pensam para atender às demandas de hoje pode não fazer sentido daqui a algumas décadas. Mas a transformação não precisa ser a derrubada de tudo e construção de soluções novas do zero. O complexo arquitetônico Vila Flores mostra que há alternativas.

 

Localizado na esquina da Rua São Carlos com a Rua Hoffmann, no bairro Floresta, o conjunto consiste em três edificações e um pátio. O terreno de 1.415 metros quadrados compreende, hoje, uma das principais iniciativas inovadoras e colaborativas do 4º Distrito de Porto Alegre.

 

A gestão do espaço é dividida entre três equipes: Administração e Imobiliário, que gerencia os aluguéis dos espaços fixos; Arquitetura, um corpo técnico responsável pelas obras e pelo projeto arquitetônico; e Associação Cultural Vila Flores, entidade sem fins lucrativos que gerencia atividades sociais e culturais.

 

Além disso, há os vileiros. É assim que são chamados os artistas e empreendedores de diversas áreas que instalaram seus negócios no complexo. Eles pagam uma taxa de contribuição associativa mensal e participam das decisões sobre as atividades realizadas e sobre questões de infraestrutura dos prédios.

Complexo arquitetônico Vila Flores. Foto: Fernando Banzi e Lauro Rocha

Exemplo de integração e colaboração

Muita gente ainda associa iniciativas como o Vila Flores ao poder público. O imóvel, no entanto, é privado. Ele está inventariado, pertence a uma família que optou por preservar o máximo possível de seu patrimônio arquitetônico e abrir as portas para os empreendedores da área criativa, cultural e social. E faz isso sem perder a sustentabilidade financeira.

 

Mas a ideia atravessa os muros do terreno. A relação com o entorno imediato do bairro Floresta e com toda Porto Alegre também está no ethos do complexo. “O Vila Flores tem essa missão de ser algo que reverbera outras possibilidades de modos de trabalho, de vida e de convivência para o resto da cidade.”

 

A frase é de Aline Bueno, membro e uma das fundadoras da Associação Cultural Vila Flores. Por conta dessas características, ela define o Vila Flores como um projeto de inovação social, que busca construir novas relações e se alimentar delas para fazer as coisas de um jeito diferente.

 

E a colaboração ocupa um papel importante nesse cenário. Não apenas nos eventos promovidos no complexo, como o tradicional Arraial, que conta com a contribuição de todos os vileiros (entenda melhor lendo este post) mas também em iniciativas como os mutirões de limpeza, que estimulam comportamentos colaborativos também nos moradores do bairro.

Agenda cultural intensa

A agenda de eventos, cursos e outras atividades gerenciadas pela Associação Cultural Vila Flores é uma das marcas do complexo. Nos dias 28 e 29 de abril, por exemplo, ocorre o festival #Deslocamentos4D, que promove a visibilidade de iniciativas culturais e sociais no 4º Distrito. Aqui, você confere mais informações.

 

A programação ainda tem atividades como oficinas de dança, aulas de capoeira, projeção de filmes, apresentações musicais, palestras… Enfim, múltiplas possibilidades para quem quiser aprender, divertir-se ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E, acima de tudo, criar conexões.

 

Aline Bueno destaca que o fato de que, apesar do complexo Vila Flores ser um espaço privado, boa parte dessas atividades são gratuitas. O que acaba transformando-o em um verdadeiro centro cultural. E o acesso a essa programação tem uma grande força transformadora.

 

Segundo ela, os benefícios do Vila Flores para a comunidade nem sempre são tangíveis. “Mesmo que o impacto seja a longo prazo, é uma sementinha que a gente está plantando. Uma criança de cinco anos que vê um espetáculo de teatro aqui, por exemplo, leva isso para a vida”, reflete.

História do complexo Vila Flores

As edificações do complexo Vila Flores foram construídas pelo alemão José Franz Seraph Lutzenberger. Emigrado para o Brasil em 1920, o engenheiro e arquiteto foi responsável por outros projetos importantes na cidade de Porto Alegre, como a Igreja São José, o Palácio do Comércio e o Instituto Pão dos Pobres.

Fachada do Vila Flores
Fachada do complexo arquitetônico Vila Flores na Rua Hoffmann. Foto: Fernando Banzi e Lauro Rocha

Originalmente, o conjunto era destinado a “casas de aluguel” para pessoas e famílias, em uma época em que o 4º Distrito estava em franca expansão industrial. Os prédios continuaram sendo utilizados por muitas décadas para fins residenciais e comerciais. Mas, com o passar dos anos e a falta de manutenção, as construções se degradaram.

 

Em 2009, foi feita a divisão de bens do espólio da família proprietária. O complexo passou para os irmãos Antonia Chaves Barcellos Wallig e João Felipe Chaves Barcellos Wallig, que compreenderam a importância arquitetônica, cultural e história da construção após muito estudo.

 

Surgiu a ideia de transformar o complexo em um espaço multifuncional. Em 2011, o arquiteto João Felipe Wallig e seus colegas começaram a trabalhar no projeto arquitetônico. No final de 2012, o local recebeu o primeiro evento e, a partir daí, começou a ser desenhado um projeto cultural.

 

Hoje, o projeto do Vila Flores está tramitando na Lei de Incentivo à Cultura. As suas diretrizes são a preservação e restauro do patrimônio arquitetônico, a diversidade de uso, a acessibilidade (não apenas física, mas referente ao acesso da comunidade a projetos culturais e sociais) e a adaptação do espaço para uma infraestrutura que abrace as formas de uso contemporâneas do complexo.

 

No início da conversa que Aline teve com a gente, ela alertou que, para explicar de fato o que é o Vila Flores, precisaria de duas horas. Melhor que isso é convidar você a conhecer o local e conferir ao vivo toda essa complexidade. Então acesse a agenda de atividades, programe-se e convide seus amigos!

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